11.9.11

qualquer coisa miúda dos 16 anos




Escreve muito, sente muito, pensa muito. Rascunha planos e contos sádicos atrás das capas dos discos dos amigos e nas paredes da casa amarela do outro lado do muro.
Foi interrompida faz tempo quando descobriu que não podia entrar na TV e viver como Bardot. Vivia de meias listradas cor-de-céu-azul-quando-está-frio pela casa, empilhando caixas, batendo as portas pra deixar existir notas surdas de sons comuns.

As vezes dedicava um dia lendo Kafka, fingindo ser um inseto encostada nos cantos sujos da sala de estar, juntando horas vazias, ora completas também.

Podia ser tédio, doença também. Podia ser os dezesseis anos, os livros, os pais. Podia ser a humanidade, os cretinos da escola, a banda de rock da garagem do lado. Podia ser cocaína, as putas na janela ao lado, os rádios ligados. Podia ser a matemática, a física. Podia ser o universo cantando strawberry fields forever, a inquietude dos domingos. Mas não era nada. Nem tudo. E não passa.

“Os loucos são como nós, só que projetados”
(adaptado do filme Girl, Interrupted.)

  

Um comentário:

  1. Talvez seja uma pena que 16 anos a gente só viva uma vez, ou não. Talvez ele nunca passe, permaneça na memória e na (in)quietude.

    "Escreve muito, sente muito, pensa muito."
    Ou seja: Nara.

    =**

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"a palavra escrita permanece."