7.9.11

Flor, bela


Florbela Espanca


Quase me reconhecer em 200 páginas é anunciar que minha solidão não cabe só em mim. Não consigo ter amarras nos meus pulsos que me digam: sou daqui. Não tem espelho que diga tudo o que sou, de corpo inteiro. Ou talvez seja só vazio, sem cor pra refletir. Não tem mistério que me cerque, ou tem mistério demais.
Não tem samba, calendário ou telhado de casa onde me encontrem, onde possa me desenhar facilmente com lápis de cor. Sou maior que documentos, cadernos e lembranças. Minha metafísica dói mais que tudo isso.
Podia expulsar isto da alma, mas logo me lembro: o não-ser faz parte de mim também.

(desculpas. É Florbela em minha vida)


“Tirar de dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimentos!
—E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparsa ao vento!...”
(Florbela Espanca)



2 comentários:

  1. Florbela foi minha primeira paixão literária. Nunca esqueci: numa sala de aula, aos 12 anos, e com pouco tempo que eu tinha perdido minha melhor amiga. Ao ler suas palavras e me encontrar nelas, eu nasci de novo.

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"a palavra escrita permanece."