15.6.14

Etéreo Estereótipo

Copo meio cheio, copo meio vazio.

Ela não gostava de exposições. Não lia Bauman, nem tinha os olhos de ressaca que eu sonhei. Dormia cedo, comia pão de granola e nunca falava palavras difíceis. Gostava de montanhismo, montava em bicicletas com a facilidade de uma criança. Arfava com minhas explicações metafísicas. Lançava olhares para o nada, dissimulando os pequenos demônios interiores que tentava esconder desde que leu aquela super matéria de 6 páginas na Vida Simples. Prendia o cabelo com lápis BIC verde, tinha 2 agendas coloridas e nenhum telefone. Tinha 1,78 de altura, parecia uma estátua indiana com os cabelos puxados para trás. Falava pinto e pau, xota e bater uma na frente dos amigos, mas morria de vergonha de tirar o sutiã assim de sopetão, antes do banho. Era meu copo meio cheio de pequenas esperanças cotidianas.

***

Ele não lia meus artigos sobre esporte. Não sabia o que era IMC, não escutava rádio em inglês. Nem falava inglês. Tinha olhos cansados por causa da ressaca. Café da manhã era coca-cola com pizza velha, meu estereótipo americano. Não pagava as contas do cartão de crédito antes do vencimento, visitas ao banco, apenas em casos urgentes, como quando a gasolina acabava e nenhum caixa eletrônico dava sinal de vida. Boêmio, tirava sarro das minhas vitaminas de espinafre. Não acordava antes das 10h, só dormia depois das 2h.
Conheci-o em um bar? Uma conferência chata de um trabalho mais ou menos? Ou num restaurante de comida indiana? Não lembro. Aliás, seu tipo era pitta.

Era meu copo meio vazio de neuroses e preocupações mundanas. 

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