Dentro daquela camiseta do Black Sabbath já gasta, derrubava um ou outro copo vazio. Com seu coração sujo e sua tez morena mal encarada abria um mundo, o meu mundo.
As vezes, enchia os olhos de lágrimas, como se enchia a casa de preguiça e saudade. Descalça, procurava os cadernos especiais de domingo, olhava cuidadosamente os anúncios. Recortava os bonitos, os poéticos, os secos, os antipáticos. Fazia verdadeiros poemas dadaístas. Até que se deparou:
“alma, procura-se. 6778-4453”
Ligou. Tu tu tu, a linha. Tum Tum Tum, o corpo.
Saiu sem deixar um bilhete costumeiro. Dias e dias, fevereiro, março, abril, maio. Deixou-me, disse a gramática. “a vadia me deixou”, disse meu coração.
Foi que um dia, abri a página do obituário e me deparei:
“encontrada moça Alma,morena, estatura mediana, morta em fevereiro por ‘golpista do amor’. “
Traição?Bah, apenas homônimos.
"Ligou. Tu tu tu, a linha. Tum Tum Tum, o corpo."
ResponderExcluirSempre lindos seus textos! E adorei a brincadeira de sons. Beijos.