1.9.11

16, 17 invernos.




Ela pintou os muros de verde, e os dedos com cheiro de flor. Ele sorriu um pouco, sonhou um pouco, viveu um pouco. Escolheu a melhor camiseta de banda, as fitas do carro, os poemas de amor.
Deixariam os sonhos na estrada rumo a uma porta de bar. Brindariam as suas vidas, as estrelas e as rádios de rock. Falariam de Saturno e suas luas, Sartre e Luiz Gonzaga. Compartilhariam o humor ácido, e juntos sorririam com Green Eyes.
Diálogos:
—Você acredita nisso?
—Nessa coisa louca de existir?
—Esses poetas, essas canções. Os adultos, o estado. As mentiras. Deus. Nós.
(pausa)
—Eu não sou assim.
—Eu sou como você.
Falariam de dor e da dor esqueceriam. Trocariam livros e números acumulados durantes suas 16, 17 primaveras. Primaveras não, invernos.
 E no final daquela madrugada, quando não tiver mais vodka, Dostoievski e amor pra preencher o silêncio, se despediriam improvisando declamar os versos amassados de Fernando Pessoa que falavam de todos aqueles vindos do inverno, aos montes nas ruas:

Fiz de mim o que não soube/
E o que podia fazer de mim não o fiz./
O dominó que vesti era errado./
Conheceram-me logo por quem não era e
Não desmenti, e perdi-me./
Quando quis tirar a máscara,/
Estava pegada à cara.

(Nara)

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