Ela era. Tensa. Ella Fitzgerald? Secundária. Bom mesmo, Billie Holiday no talo. Nada de Clash. Era fã de sex Pistols no talo. Era densa e radical. Nada de teatro de Antunes Filho. Era Zé Celso, evocação, cerimônia, culto. Ela não lia apenas Guimarães Rosa. Ia atrás de Finnegans Wake de James Joyce, queria entendê-lo, perdia horas debruçada sobre ele. Palavra por palavra, montava um quebra-cabeça em busca dos sentimentos, porque sabia que naquele caso, ler era sentir, e por que ficava obcecada quando começava algo? Era de Touro. Persistência, a sua palavra. Mas quando a insistência vira doença, uma obsessão, a persistência deve ser tratada como uma neurose. As amigas sempre falavam isso dela: “Você precisa relaxar mais.” Seu irmão sempre falava isso dela: “Você precisa ir mais à praia”. Praia?! Logo agora que tem Mostra de Cinema, Festival de Animação, de Documentário, de Arte Eletrônica, do Minuto, Bienal das Artes, de Livro, tantas palestras e cursos... Parar? Ela não pode parar!
Mas parou um dia para se perguntar: “Do que estou atrás?” e sofreu quando vislumbrou: “Estou correndo atrás de algo ou fugindo de algo?” e parou. Sofreu, sofreu, sofre.
Ouviu Jeff Buckley no talo e chorou. “Do que estou fugindo? Da minha própria intensidade? Eu queria tanto ser de outro jeito...”
(do livro “O homem que conhecia as mulheres”, Marcelo Rubens Paiva. Editora Objetiva. 2006)
Sabe aquele belo comentário que você fez hoje, então, deixou meus olhos molhados. Obrigada, obrigada por me dizer essas coisas, por me fazer sentir que esse coração ainda bate.
ResponderExcluirDepois te conto tudo.
:*
Ser de verdade. Gosto assim.
ResponderExcluirUm beijo.