Quando era pequetita e as estrelas mal cabiam nas pontas
rosadas dos dedos, me levavam as missas de costume, domingueiras. Os sotaques
do padre misturavam-se aos sotaques de ‘s’ dos mineiros. Os santos de gesso de
cores desbotadas tinham nomes de tios e avôs espalhados pelo salão improvisado.
O inchaço dos dedos de enxada, o avermelhado da pele de sol,
os calendários que contavam semanas de calor apaziguavam-se nos folhetos de
oração, nos bancos de madeira emprestados. Morriam na crença, entre o cântico e
o canto.
Quando era ontem, meus dedos rosados passaram pelos vitrais
de mil cores de um templo, peguei um panfleto com as regras para ser amado por
deus.
Absurdos coletados e registrados, a liberdade se perde no
caminho trilhado pela religião. Minha crença é o ser, o saber em si. Pertencer a
própria linguagem, apperfeiçoar suas verdades.
As vozes batiam ecos de desespero nas paredes concretadas, pareciam
atadas, vilipendiadas pelo costume. Aquele jogo de procura se interrompia ali,
no questionamento calado, acima dos bancos de madeira, por trás do corpo
engravatado, a mente engavetada.
Fez-se fé. A rua, o nome, a reza, o costume. Na tradição, na
busca. É resposta, na ressaca. No riso. É forte. É cura. É morte.
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"a palavra escrita permanece."