(Café, quadro de Tsugouharu Foujita)
Era a segunda vez que conversavam aquele mês. Por insistência dela. Por atenção dele. Para acertar as arestas de um relacionamento bem resolvido, aqueles encontros tinham apenas uma motivação para acontecer: ela queria ter de volta aquele moço em sua vida. Aquele moço que fitava o teto, pensando nos papéis importantes que deixou com a estagiária. Que tentava enumerar as vezes que seu time havia ganhado durante o campeonato estadual. E que consultava o relógio. E que, principalmente, estava ali sentado não porque morria de saudades da ex-namorada, e sim porque gostava de ser delicado. Mas já havia passado seis meses. Desses encontros, de telefonemas de madurgada, de mentiras para não precisar vê-la. E ele estava cansado, queria que tivesse uma rotina em que não precisa-se consolar aquela moça ao menos duas vezes ao mês. Apesar de falar isto em todos os cafés, lanches, telefonemas, ela sempre marcava outro. E outro.
Ela quebrou o silêncio da lanchonete vazia. Fitou a borda da xícara de café. Colocou sobre a mesa o punhado de de bilhetes. Ele largou o açucareiro com o qual estava brincando, consultou as horas novamente, apontou para os bilhetes e perguntou:
-Que é isso?
Ela moveu a xícara de lugar, e com sua voz mais baixa possivel, respondeu:
Quando sinto tua falta, escrevo. Queria que você lesse e...
Naquele instante, ele sentiu certa sensação de ridículo invadindo o corpo. Leria aqueles bilhetes? Deixaria que ela continuasse com aquela insistência? Fez um gesto com a mão e disse alto para o balcão:
-Garçom, a conta, por favor!
Levantou-se e saiu. E ela entendeu a fuga como resposta.
É legal o texto,que pena que ele não quer mais saber dela, mas pelo menos ela ainda ama ele.Você escreve muito bem devia postar mais acho que as pessoas irão gostar...Até o próximo post
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